Obras que enriquecem e guiam a narrativa visual apresentada pelo artista.
Na exposição “Encarnação: entre o céu e o chão”, que já está em cartaz na Referência Galeria de Arte, o artista André Santangelo direciona seu olhar para o processo da fotografia como um dos pontos centrais. Com curadoria de Marília Panitz, a série desenvolvida em 2013 é o resultado de uma extensa pesquisa de linguagem do artista, onde técnica e temática se entrelaçam de maneira significativa.
Após conduzir uma oficina fotografando adolescentes em situação de vulnerabilidade, onde os próprios alunos realizavam os registros, Santangelo submeteu as imagens a diversos tratamentos, incluindo interferências com tinta de aquarela vermelha tanto nas impressões quanto no próprio filtro da câmera. As fotografias foram capturadas enquanto os adolescentes brincavam sobre uma corda armada à beira do Lago Paranoá, uma paisagem recorrente nas obras do artista.
Nesses registros, os rostos dos fotografados permanecem ocultos, resultando em silhuetas e paisagens divididas por uma linha que representa a separação entre o chão e o céu. Para Santangelo, essa técnica de foto e pintura explora a dualidade entre esses dois elementos, com uma fotografia produzida analogicamente e digitalmente. A tinta vermelha, presente nas imagens, imprime uma metáfora visual, onde a vulnerabilidade dos adolescentes dialoga com a instabilidade da corda bamba, ressaltando questões de margem e limite.
“Filmei tudo na margem do lago, com uma lente macro”, afirma. “E isso amplifica a dramaticidade e a metáfora, porque esses adolescentes também estão à margem. Margem e limite são questões muito cruciais na arte.”
André Santangelo
Além das cinco séries de fotografias, denominadas pelo artista como “cianotipias”, a exposição também apresenta três objetos e dois pequenos vídeos, todos gravados na margem do lago com uma lente macro. Esses elementos amplificam a dramaticidade e a metáfora presentes no trabalho, destacando a condição marginal dos adolescentes retratados.